Secretaria Municipal da Saúde

Domingo, 11 de Abril de 2021 | Horário: 09:00
Compartilhe:

Infectologistas fazem reflexão sobre a batalha contra a Covid-19

Especialistas mais desafiados no enfrentamento à pandemia comentam o impacto da doença na medicina e na sociedade e falam sobre as expectativas desta luta

A pandemia de Covid-19 impõe à ciência desafios diários para vencer ou ao menos conter o avanço da doença e salvar vidas. Historicamente, há exatos 100 anos o mundo não via uma doença dizimar tantas pessoas em tão pouco tempo e de forma tão avassaladora.

Na guerra da medicina para combater o coronavírus e suas mutações, os infectologistas são os estrategistas. Os especialistas em infecções são os protagonistas desta luta pela vida da sociedade como um todo.

A Covid-19 provoca infecções em cadeia no organismo e cabe principalmente aos infectologistas clínicos e pesquisadores desvendar o comportamento do vírus, propor barreiras para o seu avanço, estabelecer estratégicas de defesa individuais e coletivas para assim vencer a batalha contra a doença.

LEIA TAMBÉM: Capital antecipa vacinação contra Covid-19 para idosos de 67 anos

A pandemia é uma luta contra o tempo, um desafio a ser vencido pela ciência e pelo exército de pessoas armadas com máscara, água, sabão e álcool em gel, mantendo uma distância segura de um inimigo invisível que pode estar instalado e se instalar nas pessoas que mais amamos e que mata por sufocamento, asfixia, falta de ar.

Neste 11 de abril, Dia do Infectologista, profissionais que atuam em várias frentes permanentes de prevenção e combate da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) traçam um cenário sobre essa batalha que precisa ser vencida.

Foto do médico Marcos Antonio Cyrillo. Ele veste camisa verde e está usando um cracha. Também está de máscara e olha para a frente com expressão tranquila“Essa pandemia representa uma volta ao passado, parece que estamos em 1918-1919 frente à gripe espanhola, com várias pessoas sendo acometidas pela gripe, milhões de mortes pelo mundo. Então, nós estamos voltando ao século passado e a gente tem que se preparar, serve como um alerta do desequilíbrio que está acontecendo. A quebra no equilíbrio entre o homem e a natureza está trazendo pra gente essas doenças, principalmente doenças que deveriam acontecer entre os animais estão acometendo os seres humanos. O infectologista tem que atuar na prevenção e no controle das doenças e também tratando muitas patologias que causam enfermidades ainda hoje, como o HIV, a hepatite C, B, a tuberculose, as infecções hospitalares, as pneumonias, essas doenças ainda são muito prevalentes mesmo nos dias de hoje. Tem que atuar de uma forma muito robusta na prevenção e controle dessas doenças. E essas doenças que já existem estão sendo somadas a novas como a Covid-19, que veio trazer uma mudança radical na nossa atuação. O infectologista tem que ter essa visão epidemiológica, essa visão clínica de tratamento, diagnóstico e prevenção dessas doenças infectocontagiosas e parasitárias.”
Marcos Antonio Cyrillo, infectologista há 40 anos, coordenador da Seção Técnica de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Foto do médico Milton Lapchik. Ele usa bigode e cavanhaque, está de terno preto e gravata listrada em vários tons de azul e sorri para a foto“A pandemia de Covid-19 representa um dos maiores desafios para a comunidade científica mundial e aos profissionais de saúde de maneira geral. Para o infectologista, trata-se de um enorme desafio, considerando o atendimento individual e coletivo dos pacientes acometidos e sob risco de desenvolver a doença. Temos presenciado famílias e amigos que foram atingidos pela pandemia de Covid-19, com acometimento de pessoas de diversas faixas de idade, afetando o comportamento emocional de todos. A necessidade de constante atualização dos conhecimentos sobre a Covid-19 e sobre as medidas de prevenção e tratamento representam um desafio ao infectologista e para a equipe multiprofissional que atua na assistência à saúde. Manter o foco sempre em busca das melhores práticas no enfrentamento da pandemia, mesmo em situações de adversidade, representa um enorme desafio. Ao longo da história da infectologia, podemos observar a ocorrência de pandemias, epidemias localizadas e doenças infecciosas de difícil controle e tratamento. O que se espera adiante neste contexto? Dependerá das políticas públicas de saúde que serão executadas e de um planejamento efetivo nas diversas esferas de governo no país e no nível internacional. A pandemia de Covid-19 é uma excelente oportunidade para exercitarmos a cooperação internacional e as ações humanitárias para melhoria da saúde de todos. A vacinação universal, sem dúvida, é um dos principais elementos para o controle e prevenção no enfrentamento da pandemia. O Programa Nacional de Imunização e atuação dos profissionais no campo da vigilância epidemiológica em saúde pública tem contribuído de maneira substancial para o enfrentamento da pandemia. A história da infectologia demonstra que jamais haverá um "vazio ecológico de microrganismos" e caberá ao sistema de vigilância em saúde monitorar e atuar na prevenção contra as infecções existentes na atualidade e as novas doenças infecciosas que eventualmente surgirão.
Milton S. Lapchik, mestre e doutor em medicina, especialista em epidemiologia e controle de infecção hospitalar, coordenador do programa de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares no município de São Paulo, 37 anos de exercício da infectologia.

Foto da médica Rachel Russo Leite. Ela tem cabelos na altura dos ombros e sorri discretamente. Usa blusa azul, preta e branca e um lenço colorido no pescoço“Essa pandemia mostra que precisamos aprender mais, escutar mais, estudar mais. Que precisa olhar para o outro com outros olhares. Não vivemos sozinhos e sim em uma sociedade onde cada um depende do outro para continuar sobrevivendo. É um momento de ter paciência, de esperar, de acreditar que vamos sair dessa e conseguir retomar todos os propósitos que tínhamos antes da pandemia, de melhorar o atendimento dos pacientes que a gente tanto preza. Do ponto de vista pessoal, essa pandemia representa um momento de ficar com a minha família, de agradecer que estamos juntos e vivos. É um momento de oração, interno e em conjunto com a família. Não consigo vislumbrar quando sairemos disso e nem como a sociedade vai sair disso tudo. Consigo pensar que em algum momento vai melhorar. Não sei quando. Mas espero que, enquanto sociedade, a gente saia mais fortalecido, mais fraterno. Que a gente consiga perceber que para que eu seja feliz, esteja bem e consiga ter qualquer tipo de realização, eu não preciso só de mim, eu preciso do outro. Eu espero que as pessoas consigam ter essa consciência. Ela pode ser um indivíduo, mas faz parte de um contexto muito maior. Espero que as crianças possam voltar a brincar livremente, sem ter medo de nada. Eu espero que os meus filhos saiam minimamente afetados mentalmente com tudo isso. Eles já amadureceram muito mais do que deveriam para a idade deles e eu espero que eles possam ver como a gente realmente deve agir em sociedade. Acho que isso é um aprendizado para as crianças e para as pessoas idosas, que acham que sabem tudo. Que elas possam perceber que a gente não sabe tudo, que todo mundo tem muito a aprender. Espero que como sociedade a gente saia muito mais fortalecido e unido. A pandemia nos ensinou muitas coisas. Uma delas é que a gente tem que olhar para fora, não só para dentro. Estamos olhando muito para dentro porque estamos só dentro de casa e muita gente se internalizou dentro de si, mas em algum momento essas pessoas precisam parar e olhar para longe, olhar para o outro. Não o outro tão próximo, o seu filho, o seu marido, mas olhar para aquele desconhecido e saber que ele também faz parte do todo. Para mim, essa pandemia significou isso.”
Rachel Russo Leite, coordenadora dos programas de Controle de Hanseníase e Tuberculose da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), médica com formação e mestrado pela USP (Universidade de São Paulo) e residência em infectologia, área na qual atua desde 2007.

Foto do médico Ricardo Cantarim no dia em que tomou a vacina contra a Covid-19. Ele está com um dos braços para fora da camisa enquanto uma profissional aplica a vacina em seu ombro. Ambos usam máscara“A pandemia representa um desafio que nossa sociedade tem que passar unida, a fim de que aprendamos que tudo está conectado e diferentes setores dependem uns dos outros. O que esperar do futuro: um melhor preparo para outras pandemias que possam surgir, como colaboração dos serviços de saúde para melhorar notificações e prevenção intra-hospitalar de disseminação de doenças. E, para a população em geral e governantes, elaboração de estratégias e planos de contingência para próximas pandemias que possam surgir, como planos estratégicos de vacinação e medidas de prevenção em massa com menor impacto na vida das pessoas.”
Ricardo Cantarim Inácio, médico infectologista há 16 anos, atua no Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM)

 

collections
Galeria de imagens