Secretaria Municipal da Saúde
Após mais de 3 mil partos realizados, enfermeira obstetra conserva emoção de trazer um bebê ao mundo
Filha do dentista Luiz Talarico, 78 anos, e da cabeleireira Elza dos Santos Talarico, 69, Thaís Talarico, 41, sabia desde criança que sua vocação era trabalhar na área da saúde. Cresceu na rua Paquetá, em São Bernardo do Campo, um logradouro sem saída e com pouca movimentação de carros, o local perfeito para que sua vida adulta seja recheada de boas lembranças da infância. No entanto, as memórias que ela faz questão de recordar a todo instante e as conta sempre que tem a oportunidade é de como decidiu ser enfermeira obstetra e de que forma suas escolhas profissionais a levaram a trabalhar no local dos sonhos, a Casa de Parto Sapopemba. Na semana que antecede o do Dia das Mães, parte dessas memórias é novamente visitada por ela.
Na adolescência Thaís se cobrava muito nos estudos, pois queria passar no processo seletivo da Universidade de São Paulo (USP), onde seu pai se formou. Ela precisava dessa conquista pessoal, mas isso nunca lhe foi imposto. Sua primeira opção era se tornar médica pediatra. Para isso, conciliou o terceiro ano do ensino médio com um cursinho preparatório. Bateu na trave, mas não foi daquela vez. No ano seguinte continuou com o curso pré-vestibular, mas decidiu mudar de estratégia e prestar o vestibular para enfermagem. Ainda em dúvida se era ou não a coisa certa a fazer, decidiu consultar seu pai, que respondeu categoricamente: “faça o que o seu coração mandar!”
Era esse o incentivo que Thaís precisava para o início de sua trajetória profissional como enfermeira obstetra. Passou nas duas fases da Fuvest e ficou em oitavo lugar na classificação geral. Em 2000, quando estava no segundo ano da graduação, escolheu fazer as matérias relacionadas a pediatria, por se tratar da opção mais próxima de seu antigo sonho de ser pediatra. Percebeu que não era aquilo que queria, então trocou as matérias para o campo de saúde da mulher e se encontrou na obstetrícia. Naquele mesmo ano teve que conhecer algum serviço que não fosse hospitalar, como trabalho da faculdade, e escolheu a Casa de Parto Sapopemba.
Na Casa de Parto Sapopemba, Thaís com a mamãe Gleicy segurando sua bebê, Maya, em 2018
Juntamente com uma amiga de sala, a Samanta Guilger, 41, atravessou a cidade, da zona oeste, onde fica a Cidade Universitária da USP, até a zona leste, onde está a unidade Sapopemba. Ao chegarem, foram recebidas pela enfermeira obstetra chilena, Argen Célia Verde Ortiz, 64, que apresentou a casa inteira às duas. Thaís se recorda que Samanta adorou o lugar e disse que queria ter um bebê lá, e ela respondeu que seria ótimo, pois um dia iria trabalhar na Casa de Parto Sapopemba e fazer o parto da amiga.
A vida seguiu, Thaís Talarico ganhou experiência na instituição Amparo Maternal, de 2001 a 2008, e no Hospital de Pedreira ela trabalhou de 2003 a 2010, até receber o tão esperado convite para trabalhar na Casa de Parto Sapopemba, onde está desde 24 de março de 2010.
Parto especial
Depois de formada, Thaís perdeu o contato com Samanta, a amiga que visitou a Casa de Parto Sapopemba junto com ela. Até que, em 2016, uma mensagem surge na caixa de entrada de seu perfil no Facebook. Era Samanta contando que estava grávida e que gostaria de ter a bebê naquela “casinha linda” que elas conheceram. Thaís a convidou para mais uma visita, agora acompanhada pelo pai da criança e pela avó materna.
Para que uma criança nasça na casa de parto é necessário que a gravidez seja de baixo risco. Somente em condições ideais é possível seguir com o planejamento. No caso de Samanta, tudo estava perfeito para que sua filha viesse à luz naquele ambiente acolhedor. Ambas, Thaís e Samanta, queriam que o parto fosse assistido pela Thaís, mas é sempre a equipe de plantão que realiza o procedimento, não sendo possível escolher a profissional. Mesmo assim, Samanta estava decidida que sua filha nasceria ali.
“Em um domingo eu cheguei para pegar o plantão e uma colega disse que havia uma paciente em trabalho de parto, com seis centímetros de dilatação. Estava tudo bem, porém, ela era pequena e a barriga bem grande”, relembra Thaís e completa que, com aquela descrição, perguntou o nome da paciente. “Eu fiquei em êxtase ao saber que estaria no parto da minha amiga de faculdade. Nós moramos juntas por um período, tivemos tantas histórias e agora mais essa”, conta. “Foi emocionante, pois ela estava no chuveiro para aliviar a dor e, ao me ver, disse não acreditar que eu estaria presente. Nos abraçamos e, diante daquela dor que ela estava sentindo, eu disse que iria ajudá-la”, relembra.
O trabalho de parto durou cerca de oito horas, até que nasceu Lis Belle, na banqueta (ferramenta usada em partos normais), na presença da avó e do pai. “O marido dela estava dando apoio atrás e a mãe dela ao lado. Eu estava sentadinha no chão e a Lis chegou chorando, muito bem, saudável. Muito linda!”
Formatura de Enfermagem, com Samanta Guilger (à esquerda) e outras duas amigas (Fotos: Arquivo Pessoal)
Quando Lis nasceu, Thaís pegou a bebê e a colocou em cima da mãe. Depois ficou quietinha, de cabeça baixa e tentando conter as lágrimas, deixando Samanta curtir o momento. Samanta perguntou se havia algo errado com a criança, e Thaís respondeu que não, era apenas a emoção de reencontrar a amiga e realizar seu parto.
“Trazer uma criança ao mundo é muito incrível, tem muita emoção envolvida. Eu conto os partos que eu acompanho. Em 19 anos de profissão já realizei 3.170 partos”, revela Thaís. “Mesmo depois de tanto tempo, de tantos partos, eu ainda choro, pois é muito emocionante ver as mulheres se modificando, se tornando mães, deixando de ser apenas mulheres. E os homens, por sua vez, se tornando pais. É a formação de uma família. As mulheres são guerreiras. No caso da Samanta, oito horas de trabalho de parto são oito horas de dor, mas uma dor com final feliz!”, conclui.
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