Secretaria Municipal da Saúde

Sexta-feira, 25 de Junho de 2021 | Horário: 15:46
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Em um ano, Saúde municipal realiza mais de 333 mil atendimentos a imigrantes

Muitos fazem o cadastro no Sistema Único de Saúde, o SUS, antes mesmo do registro oficial na Polícia Federal quando chegam ao Brasil

Eles desembarcam dos mais diversos meios de transportes, repletos de insegurança, angústia e medo, mas encontram no novo destino o alívio que a esperança de uma nova vida traz. Entre março de 2020 e maio de 2021, foram realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da rede municipal de saúde de São Paulo 333.792 atendimentos a imigrantes, vindos de 230 países diferentes.

Nesta sexta-feira (25), data que marca o Dia do Imigrante, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) detalha as assistências prestadas na cidade aos imigrantes. Os bolivianos representam a maior fatia com 75.620 atendimentos, seguidos pelos haitianos com 25.029 e dos 10.257 portugueses atendidos nos últimos 13 meses. Segundo dados da Polícia Federal, de 2010 a 2019, chegaram ao Brasil 1.890.742 imigrantes e refugiados regularizados. Desses, 42% vivem no município de São Paulo.

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Muitos, mesmo antes do registro oficial na Polícia Federal, fazem o cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS) da capital, de acordo com Lúcia Helena da Silva, responsável pela Área de Saúde do Imigrante, na Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde. “Muitos bolivianos já chegam sabendo que o SUS é gratuito, procuram a unidade básica e o Cartão Nacional de Saúde (CNS) é o primeiro contato com a cidade. Como o cartão tem data, muitos utilizam quando procuram a Polícia Federal para se regularizar, utilizando o documento como comprovante de que estão em São Paulo desde aquele momento”, explica.

Eliezka está no centro da foto, atrás de duas pessoas e   ao lado de uma terceira. Eles estão em frente a uma   escada dentro de uma estação do metrô. Todos usam máscara   branca e camiseta branca com o emblema do SUS

A venezuelana Eliezka, a segunda da esquerda para a direita, é agente comunitária de saúde (Foto: Arquivo Pessoal) 

Relação de confiança
Carolina Peggion, gerente da UBS Sé, acredita que para prestar um bom atendimento a esse público é preciso construir uma relação de confiança e vencer o entrave imposto pelo idioma, já que a língua portuguesa é pouco dominada pelos imigrantes. “Tentamos de todas as formas nos comunicarmos com eles, já que são tantas realidades, culturas, histórias e dialetos. Os motivos pela vinda também variam, como guerra e fome, e influenciam na história de vida de cada um. Por isso, tentamos trabalhar de caso a caso. Cada nacionalidade, inclusive, tem comorbidades particulares de sua origem. Entendendo isso, conseguimos atuar de maneira preventiva, mapeando até predileções com as doenças. Ficamos próximos desses pacientes e, assim, conseguimos resolver muitos casos”, afirma.

Esse é o caso da libanesa Lara Awala, 34 anos, hoje moradora do Cambuci, na região central. Ela desembarcou em São Paulo há 15 anos em busca de uma vida melhor e considera os funcionários da UBS Sé como amigos. “Vim para o Brasil com meu marido e não sabia sobre o SUS. No Líbano todos temos que pagar pelo menos 50% de cada atendimento de saúde. Conheci quando tive meu primeiro filho, fui vaciná-lo e descobri um mundo dentro da rede, a gente pode fazer tudo. Quando tivemos Covid-19, em janeiro deste ano, fomos acompanhados todos os dias, individualmente, por telefone. Conheço todos eles, já temos amizade. Atendem com carinho no coração, a gente percebe e é emocionante. A minha vontade todos os dias é abraçá-los. Vou fazer isso quando a pandemia acabar”, diz Lara, que em 2008 também trouxe os pais para o Brasil.

Gabriel está do lado esquerdo da foto, de perfil. Ele é negro, careca, usa óculos e está de jaleco branco com o emblema do SUS no braço, segurando uma seringa. À sua frente está uma mulher de cabelos cacheados presos, óculos, olhando para Gabriel enquanto segura um algodão no braço que acabou de ser vacinado pelo enfermeiro

Gabriel, imigrante de Guiné-Bissau, trabalha na campanha de vacinação contra a Covid-19 e diz que é um prazer trabalhar no SUS (Foto: Arquivo Pessoal) 

Além do atendimento a essa população, a SMS emprega atualmente mais de 100 imigrantes. A venezuelana Eliezka Garcia, 30 anos, é um deles. Agente comunitária de saúde da UBS República, decidiu vir ao Brasil, em 2017, com o companheiro em busca de melhores condições de vida e vislumbrou uma oportunidade de trabalho enquanto era apenas paciente da rede. “Eu estava em uma consulta e vi um anúncio para a vaga de agente. Fiquei com um pouco de receio se poderia me candidatar, mas deu certo. Acabei passando em todas as etapas e, coincidentemente, na última, a dinâmica era ter que atender uma família de imigrantes que não falavam português. Então, deu certo porque eu estava procurando um emprego onde o que eu considerava uma debilidade, que era falar espanhol, se tornou um ponto positivo nesse momento e eles estavam procurando alguém como eu. Foi uma conexão mágica. Hoje consigo devolver ao munícipe todo acolhimento que recebi como imigrante, com minha ajuda, apoio e suporte na saúde. O que o SUS oferece aqui é muito diferente, principalmente nos acompanhamentos individuais que fazemos. Em quantos lugares do mundo as pessoas têm isso?”, conta Eliezka.

Para Gabriel Correia de Matos, 52 anos, enfermeiro da UBS Sé, imigrante da Guiné-Bissau, as reações do público são ambíguas por ser estrangeiro. “Já passei por situações desagradáveis por ser um imigrante, mas a maioria das pessoas torce pelo nosso sucesso, nos dá apoio. É um prazer trabalhar no SUS, que tem uma estrutura incrível, bem diferente do meu país. Lá, em casos mais graves, o paciente vai para Portugal, imagina?”, relata.

Durante a pandemia, os imigrantes que não dominam a língua portuguesa podem contar com cartazes para orientação sobre a Covid-19 em espanhol, francês e inglês, desenvolvidos em parceria com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Os materiais ficam disponíveis no site da secretaria.
 

 

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