Secretaria Municipal da Saúde
Ela usou música na UTI de Covid-19 e fez viralizar na internet a humanização do atendimento
Nascida em Anápolis, no interior de Goiás, a menina Brunna Falluh de Alarcão já desenvolvia desde a infância o gosto por cuidar do próximo. Nessa fase da vida, dizia aos pais que seria médica e trabalharia em São Paulo. Aos 29 anos de idade, ela percebe que fez as escolhas necessárias para chegar aonde queria. Só não imaginava que iniciaria a residência na rede pública de saúde da capital paulista bem no meio de uma pandemia e que ficaria conhecida na internet como “a médica que canta e toca violão para pacientes de Covid-19”, em março último.
O primeiro ano de residência de Brunna em clínica médica foi no Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch, o M’Boi Mirim, na zona sul da capital, que teve uma importante atuação no enfrentamento da Covid-19, com mais de 200 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais de 4 mil altas de pacientes. Foi lá que viveu a experiência que a marcou. Em um de seus plantões, pediu autorização para tocar violão e cantar para pacientes e profissionais de saúde UTI para tornar mais leve a rotina da pandemia no hospital, o que foi prontamente aceito. Foi então que a jovem pegou o violão e saiu entre os leitos, levando mensagens positivas em canções.
Uma colega ligou a câmera do celular e foi o que bastou para o vídeo ganhar a internet e a humanização do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) ficar conhecida por muitos. “Nós fazemos estágios em vários cenários, como emergência, saúde da família e acompanhamos especialistas”, explica a médica que agora dá continuidade ao trabalho na Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Thomas.
Com o violão, companheiro desde que aprendeu os primeiros acordes na infância (Foto: Arquivo Pessoal)
Há dois meses, uma senhora entrou em contato com Brunna pelas redes sociais e disse que o marido estava em um dos leitos pelos quais ela passou tocando violão no hospital M’Boi Mirim. De acordo com o relato do paciente à esposa, ouvi-la o fez sentir forças para lutar.
“Bastante gente veio falar comigo, inclusive integrantes da equipe médica”, conta. Um deles foi o médico e colega de trabalho Anuar Saleh que a procurou e disse que estava extremamente cansado, mas que depois de ouvir aquela música no hospital seria capaz de fazer mais 24 horas de plantão. “E essa era a ideia, levar força para todos ali naquela situação.”
Brunna aprendeu a tocar violão com a mãe, a advogada Carmen Lúcia Falluh de Alarcão, 58, que paralelamente fez carreira como regente de orquestra em Anápolis, professora de música e multi-instrumentista. “A paixão dela é pelo violão, assim como a minha. Depois que minha mãe me ensinou os três primeiros acordes, eu comecei a buscar cada vez mais conhecimento sobre música”, diz.
Tocando e cantando para pacientes na UTI do Hospital Municipal M’Boi Mirim, Brunna ficou famosa na internet (Foto: Arquivo Pessoal)
Formação na Bolívia
Foi em 2011 que Brunna iniciou o curso de medicina em uma faculdade particular do Tocantins, na região norte do Brasil. No entanto, os pais dela tiveram dificuldades financeiras, o que se tornou um empecilho para que continuasse os estudos. Quase sem saída, ela recorreu ao que sempre fez antes de tomar qualquer decisão: “pedir uma solução a Deus”. Assim buscou resolver aquela situação. “Não me lembro como, mas chegou até mim a informação de que uma amiga iria estudar medicina na Bolívia. Era a minha resposta e eu fui.”
Os pais conseguiram financiar os estudos dela no país vizinho porque o custo de vida lá era baixo. A estudante de medicina da Universidad de Aquino de Bolívia (Udabol) recebeu, em 2017, uma medalha de honra ao mérito como “aluna destaque”. Em 2019, Brunna revalidou o diploma boliviano no Brasil, pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “Para mim foi parte do pagamento de uma dívida enorme que tenho com os meus pais.”
Batendo papo com os amigos antes da pandemia: passatempo favorito da residente (Foto: Arquivo Pessoal)
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