Secretaria Municipal da Saúde
Atendimento no SAE Fidélis Ribeiro fez de Cícera uma referência no serviço e protagonista de muitas histórias
Ao se mudar de Aparecida d’Oeste para o município de São Paulo com 17 anos, Cícera Maria de Macedo não tinha ideia do quanto a vida dela se transformaria. A funcionária do Serviço de Assistência Especializada (SAE) IST/Aids Fidélis Ribeiro, em Ermelino Matarazzo, terá sua história contada no livro da Coordenadoria de IST/Aids, da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo (SMS), a ser lançado em dezembro deste ano, com dez histórias de vida de pessoas que têm suas trajetórias pessoais e profissionais marcadas pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana) na cidade de São Paulo. Dois anos depois de se mudar do interior para a capital, a jovem começou a carreira no serviço público por indicação, trabalhou em uma creche municipal durante três anos, prestou concurso, foi efetivada e transferida para a SMS, onde trabalhou como auxiliar de limpeza no Hospital Municipal Tide Setúbal.
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Em 1996, Cícera passou a integrar a equipe da unidade de saúde ambulatorial, que presta assistência a pacientes vivendo com HIV ou com outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). “Trabalhei inicialmente na recepção, acompanhei os primeiros atendimentos na unidade recém-aberta e, desde sempre, minha prioridade era tornar esse local um ambiente de acolhimento para os pacientes, sigo orgulhosa por fazer parte desta equipe”, emociona-se. Nesses 26 anos de trabalho no SAE, ela conta que foi impossível não criar vínculos afetivos com as pessoas que passam pelo serviço uma vez a cada seis meses. Quando a unidade abriu, as gestantes eram as que mais procuravam atendimento. “Essas mulheres tinham acabado de receber o diagnóstico de infecção pelo HIV para elas e os filhos com idades entre dois e seis anos, infectados em transmissão vertical. São pessoas que acompanhamos até hoje aqui”, conta Cícera.
Desde a abertura da unidade, a servidora integra a equipe da qual se orgulha (Foto: Arquivo Pessoal)
Um dos casos atendidos e “difícil de superar” foi o de Marcela (nome fictício), que não aceitava o quadro clínico. A descoberta de infecção pelo HIV veio ainda criança, aos 5 anos de idade. “A transmissão do vírus pela mãe a revoltou, então ela parou de fazer o tratamento, não frequentava o serviço, e acabou falecendo em 2020”, lamenta. Em 2019, a cidade de São Paulo foi a primeira metrópole da América Latina a receber a certificação da eliminação da transmissão vertical do HIV. Ao final de 2021, o Ministério da Saúde reconheceu novamente a eficácia das políticas públicas da capital paulista por manter esse cenário. Depois de muitos anos entre a recepção e a regulação, lidando diretamente com o público, Cícera precisou ajudar a equipe de recursos humanos em um trabalho administrativo, sem contato com os pacientes. Ainda assim, é a ela que procuram no serviço de saúde. No fim do último ano, quando retornou das férias, a funcionária do SAE encontrou um bilhete na mesa de trabalho. Uma paciente havia escrito que, “apesar de não gostar de lembrar do tratamento, encontrava naquele atendimento humanizado o incentivo que precisava para cumpri-lo à risca.” Ainda que os avanços da capital no enfrentamento do HIV e da Aids sejam razões para se comemorar, o trabalho de servidores como Cícera demonstra que é preciso persistir. “Ainda abrimos de três a quatro prontuários com novos casos todos os dias”, conta a trabalhadora do Sistema Único de Saúde (SUS). Para ela, é muito importante a mensagem de prevenção, as campanhas e ações educativas promovidas pela SMS.
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