Prefeitura de São Paulo

As Unidades Odontológicas Móveis (UOM) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) realizaram mais de 70 mil atendimentos a pessoas vulneráveis e em situação de rua na capital nos últimos sete anos. Ao longo deste período, estes equipamentos itinerantes também já entregaram mais de 5.853 próteses totais ou parciais.

Em 2018, as UOMs realizaram 5.296 atendimentos e colocaram 382 próteses; em 2024, até outubro, 10.241 atendimentos já haviam sido realizados, com a instalação de 830 próteses.

Ao todo, atuam nas seis UOMs, presentes em todas as Coordenadorias Regionais de Saúde da cidade, sete dentistas, sete auxiliares e cinco motoristas. O trabalho é integrado com a equipe multiprofissional que compõe o programa Consultório da Rua. Os homens representam cerca de 78% do público que utiliza o serviço das UOM, enquanto as mulheres representam 22%.

“O cuidado com a saúde bucal na UOM é completo, desde tratamento preventivo até restaurações e cirurgias.”, ressalta Marta Cipriano, coordenadora da Assessoria Técnica de Saúde Bucal da SMS. Segundo ela, isso inclui a busca ativa de lesão com suspeita de malignidade, condição que acomete principalmente pessoas com mais de 40 anos, principalmente para aqueles que fazem uso de álcool, tabaco e outras drogas.

Nesses casos, o paciente é encaminhado aos Centros de Especialidade Odontológica (CEO), onde é realizado o diagnóstico, com posterior encaminhamento para os serviços na rede de atenção terciária. A UOM também poderá encaminhar o paciente para outros equipamentos da rede, como os Centros de Cuidados Odontológicos (CCOs) e equipes de saúde bucal das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do entorno.

Localizadas em pontos estratégicos, como debaixo de viadutos ou dentro dos Centro Temporário de Acolhimento (CTA), equipamentos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, (Smads), as equipes UOM contribuem não apenas para melhorias no aspecto funcional da saúde bucal dos pacientes, como fala e mastigação, mas também para o resgate da sua autoestima e autoconfiança, que, por sua vez, influencia na conquista de novas oportunidades de trabalho, na reinserção social e familiar.

UOM no CTA

A UOM instalada na zona norte se alterna em dois endereços: em uma semana permanece estacionada na Rua Serafim Gonçalves Pereira, no Parque Novo Mundo, e na outra, na Avenida Zaki Narchi, no Carandiru, onde funciona um CTA. A equipe também atende à população trans masculina proveniente da Casa João Neri, e trans feminina vinda das Casas Florescer 1 e 2.

Desde o início das atividades até outubro de 2024, a unidade realizou 8.995 atendimentos e 862 próteses foram entregues. Das pessoas atendidas, 83,5% são homens e 16,5% mulheres.

“O município está oferecendo tecnologia de ponta e materiais de primeira qualidade para a confecção das próteses, assegurando a biossegurança, controle e rastreabilidade que o serviço oferece”, afirma Sandro Garcia, assessor técnico em saúde bucal da Coordenadoria Regional da Saúde Norte (CRS Norte). Para ele, que trabalha há 21 anos na saúde pública e há 14 anos na gestão da saúde bucal, “O SUS oferece tratamentos diferentes, de forma igualitária”.

“A população vulnerável geralmente não vai às UBSs, ela sente-se melhor em utilizar os serviços do Consultório na Rua e, no caso, da Saúde bucal, as unidades da UOM”, reitera o gestor.

Missão

Raphael Martins, 33, cirurgião dentista que há três anos e meio realiza atendimento nas UOMs, conta que, antes de iniciar o atendimento odontológico propriamente dito, o profissional acolhe o paciente, procura conhecer a realidade que vive e suas aspirações.

Ainda assim, diz o profissional, é difícil formar vínculo dos equipamentos com as pessoas em situação de rua, pela sua própria condição. “Quando os pacientes chegam diretamente para o atendimento, o tratamento é imediato, mas quando realizamos busca ativa juntamente com a equipe multiprofissional do Consultório da Rua, precisamos vencer barreiras e convencê-los a aceitar o serviço”, explica Raphael. “Por isso, aproveitamos um mesmo atendimento para fazer vários procedimentos, reduzindo assim o tempo de tratamento”.

Uma vez atendidos, no entanto, ele diz que alguns pacientes criam vínculo e passam a ser acompanhados pela UOM. O dentista também destaca relatos de pacientes que se sentiram encorajados a mudarem de vida após o tratamento dentário. “Alguns voltaram a estudar, outros retornam para a terra natal”.

Sem vergonha de sorrir

“Eu passava na avenida Brás Leme, na região da zona norte, e observava uma van fazendo tratamento dentário, mas não sabia que podia usufruir desse tratamento”, afirma José Carlos de Jesus, 65, um dos pacientes da UOM.

Ele conta que, ao passar a utilizar o Centro Temporário de Acolhimento (CTA-15) conheceu uma agente de saúde. “Conversei com ela sobre a minha necessidade em relação à condição dos meus dentes, e ela conseguiu me inserir nesse programa da UOM”. Há um ano em tratamento na unidade móvel, José Carlos já colocou duas próteses, fez extrações de dentes e limpezas. “E continuo o acompanhamento dentário até hoje”, reforça.

O paciente diz que sentia vergonha em várias situações. “Eu tinha constrangimento ao sorrir, pois estava sem dentes, com um monte de janelinhas; participo de um culto na igreja e não aproveitava a oportunidade de cantar um louvor, pois ficava envergonhado”, relata. “Depois que coloquei as próteses canto o louvor sem nenhum constrangimento. Além disso, agradeço a oportunidade de voltar a sorrir.