Secretaria Municipal de Cultura
BAIRRO DE CAPELA DO SOCORRO / VELEIROS
A região de Capela do Socorro, ao sul do Município de São Paulo, estende-se por uma vasta área abaixo dos canais dos rios Jurubatuba e Guarapiranga.. É formada pelos distritos de Socorro (onde se encontra o bairro de Veleiros), Cidade Dutra, Grajaú, com uma superfície de 134 Km², que corresponde a 8,8% do território do município. Cerca de 90% de seu território está inserido em área de proteção aos mananciais responsáveis pelo abastecimento de 30% da população da região metropolitana de São Paulo.
A ocupação da Capela do Socorro está estreitamente relacionada à expansão e estruturação urbanas da Subprefeitura de Santo Amaro, à qual esteve administrativamente ligada até 1985.
Sobre épocas anteriores, existem informações de que esta região era habitada pelos índios tupis, que ocupavam também vários pontos da região sul do Brasil, além do litoral. Já no século XX, os guaranis, sub-grupo tupi, no curso de seu processo migratório, chegaram a Parelheiros e lá se fixaram. Remanescentes desse núcleo são as duas aldeias existentes na área da Subprefeitura de Parelheiros - a de Curucutu e a do Morro da Saudade - e que reúnem cerca de 600 indígenas.
Outras referências à Capela do Socorro são encontradas em documentos dos anos que se seguiram à independência do Brasil. Naquela época, foram realizadas algumas tentativas de atrair para o Brasil a imigração européia. Em 1827 e no ano seguinte desembarcaram em Santos os primeiros grupos de colonos alemães, dentre os quais destacaram-se pouco mais de 120 que aceitaram terras devolutas em Santo Amaro, localizadas em Colônia, na Subprefeitura de Parelheiros e que se espalhou por toda a região sul. Ao contrário das colônias alemãs no sul do Brasil, esta não conseguiu preservar muitos aspectos de sua tradição cultural e quase nada resta dessa experiência colonizadora.
O interesse pela região da Capela do Socorro desponta nas primeiras décadas do século XX, após a construção das barragens da Light: em 1907, a do rio Guarapiranga, dando origem à represa que ocupa área de 33,9 Km², com a finalidade principal de regularizar a vazão do rio Tietê e garantir a geração de energia na Usina Edgard de Souza em Santana do Parnaíba; e, a do rio Grande, construída após a grande seca de 1924, que deu origem à represa Billings, ocupando área de 130 Km² entre São Paulo e São Bernardo do Campo.
As represas criaram um potencial de lazer até então desconhecido na região, ensejando intensa especulação imobiliária em torno de loteamentos para construção de equipamentos recreativos. Chácaras de recreio, clubes de campo, clubes náuticos e balneários passaram a caracterizar extensas áreas dos arredores das represas. A construção da auto-estrada Washington Luís em 1928, com 16 Km, ligou o Ibirapuera a Interlagos, via Santo Amaro e Socorro e foi, posteriormente, completada com a Avenida Interlagos, impulsionando ainda mais o desenvolvimento das atividades recreativas da região.
Alguns loteamentos residenciais como de padrão médio surgiram nesta época, na porção norte da Capela do Socorro, entre os quais o maior era Vila Friburgo. Na década de 30, uma importante construtora e imobiliária, a "AESA - Auto Estradas S.A.", criou o loteamento denominado "Interlagos - Balneário Satélite de São Paulo", realizando no local grandes investimentos para criar infra-estrutura urbana e melhorias rodoviárias.
O objetivo era assentar, de frente para a Represa de Guarapiranga, um bairro residencial de alto padrão para atender às camadas de maior poder aquisitivo. No entanto o empreendimento não evoluiu; anos depois, apenas algumas dezenas de famílias haviam se instalado, em meio a quarteirões completamente vazios. Muitas das casas construídas para fins residenciais acabaram sendo ocupadas por restaurantes.
Cidade Dutra é um exemplo de bairro popular que surgiu na década de 40. Outros bairros da região haviam se formado num desenvolvimento mais espontâneo da população em torno de entroncamentos de estradas ou de vilas rurais pré-existentes, que passaram a ser servidas por linhas de ônibus. Cidade Dutra, ao contrário, foi planejada e construída pela empresa Auto-Estrada S.A., com financiamento do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Serviços de Transporte (IAPST), com o objetivo de atender a demanda habitacional dos trabalhadores ligados a esse Instituto. Aquela empresa realizou não só o loteamento, mas a construção das casas. Tratava-se de um grande conjunto residencial (com cerca de 500 unidades inicialmente) caracterizado por extrema homogeneidade no tamanho e estilo das casas, dotado de infra-estrutura urbana, como ruas pavimentadas, iluminação pública, água e esgoto, além de um pequeno centro comercial. Na época em que foi construída, Cidade Dutra encontrava-se completamente isolada, mas representou uma experiência pioneira na região. Logo foram estabelecidas linhas de ônibus para atender ao novo bairro que passou a exercer função polarizadora no desenvolvimento de seus arredores.
Outros bairros continuavam a se formar como resultado de iniciativas imobiliárias, através de loteamento de glebas quase sempre sem preocupações urbanísticas ou outros critérios além da obtenção de lucros. Característica comum a todos foi o fato de que a linha de ônibus surgiu em decorrência do núcleo já loteado e ocupado. Por outro lado, as estradas percorridas pelos ônibus funcionaram como eixos, gerando pequenas aglomerações em torno dos pontos de parada ou no terminal da linha. Nestes locais instalaram-se estabelecimentos comerciais e de serviços, geralmente modestos, para atender às necessidades locais.
Estes pequenos centros de atividades terciárias ao longo das vias principais foram crescendo à medida que os bairros se adensaram e muitos serviram como pólos em torno dos quais surgiram novos bairros.
Nas décadas de 50 e 60 o Estado de São Paulo viveu intenso processo de expansão industrial, com importantes alterações no padrão de localização da indústria mais moderna e de maior porte. Na cidade de São Paulo, este processo teve como um de seus aspectos, a ampliação do parque industrial de Santo Amaro, que se consolida como um dos mais importantes pólos de emprego industrial da região metropolitana. A disponibilidade de áreas, as facilidades de transporte, particularmente com a construção do sistema de marginais do rio Pinheiros e a abundância de água e energia, contribuiu para atrair grande número de estabelecimentos industriais dos setores mais modernos da indústria de transformação. Estes se instalaram ao longo do canal de Jurubatuba, chegando até as proximidades do Largo do Socorro.
O desenvolvimento industrial teve grande influência em Capela do Socorro. A região passou a acomodar parte do crescimento urbano da cidade, uma vez que sua área rural era imensa e relativamente próxima do centro industrial de Jurubatuba e dos dinâmicos centros de comércio e serviços localizados ao sul e sudoeste da região metropolitana. Para Capela afluíram significativos segmentos da população trabalhadora que buscavam área ainda não consolidada e com disponibilidade de terra urbana a baixo custo.
Os novos bairros que então surgiram acompanharam o padrão periférico de expansão urbana que caracterizou o crescimento de São Paulo particularmente nos anos 70. Os arruamentos penetraram em áreas onde o solo é mais vulnerável à erosão e com altas declividades que as tornam inadequadas à urbanização. Sem dispor de infra-estrutura urbana, de equipamentos sociais e distantes do transporte coletivo, grande número de trabalhadores autoconstruíram suas casas em lotes, na maioria das vezes ilegais, e comprados através de longos financiamentos.
A partir de 1975 a ocupação da região de Capela do Socorro passou a ser legalmente subordinada à Lei de Proteção dos Mananciais e à legislação de zoneamento industrial. Esta última obteve certo êxito no que se refere às restrições à implantação de novas industrias na região e ao controle de expansão das existentes. No entanto, a legislação relativa aos mananciais foi insuficiente para conter o avanço da urbanização e a degradação ambiental.
A lei dos mananciais estabeleceu baixos limites de densidade para a ocupação do solo e dificultou o licenciamento de empreendimentos na área, mesmo quando adequado às normas legais. Praticamente excluídos do mercado imobiliário formal, os preços dos terrenos se tornaram extremamente baixos. A depreciação do valor da terra, aliada a outros fatores como uma inadequada política habitacional, a baixa renda dos trabalhadores a proximidade de grande concentração de empregos e as dificuldades de fiscalização, e certa conivência, por parte dos órgãos públicos, tiveram como efeito a expansão desenfreada dos loteamentos clandestinos e de favelas, localizadas em grande parte ao longo dos córregos contribuintes das represas. Estima-se atualmente a existência de cerca de 200 bairros irregulares na região e 220 favelas.