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Mais de 60 meninas “correndo atrás de um sonho”. Esse foi um dos retratos da peneira de futebol feminino promovida pelo COTP (Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa). A seletiva aconteceu na tarde da última quarta-feira (05/06), no gramado sintético do local.

Composta por quatro momentos (conversa, aquecimento, jogo reduzido e treino coletivo), a peneira foi conduzida pelo técnico Jonas Urias, que comanda as categorias Sub-15 e Sub-17. Urias explicou detalhadamente o principal foco de avaliação em uma seletiva como essa.

“Nosso principal foco de avaliação nas peneiras é técnico. Geralmente, as meninas jogam muito futsal e society. Dificilmente há meninas que já jogaram futebol de campo, por isso a cobrança tática é bem pequena. Elas nem sempre vão se destacar taticamente porque não sabem cumprir as funções ainda. A parte tática é nossa responsabilidade, nós temos que ensinar”, afirma.

O técnico também explicou a importância do desenvolvimento motor dentro das categorias de base: “dependendo da idade das candidatas, já se passaram alguns momentos sensíveis do desenvolvimento motor dessas atletas. Com isso, não conseguimos resgatar alguns repertórios, alguns padrões motores que a jogadora poderia ter. Então, se ela já está com um repertório motor decente, conseguiremos trabalhar os gestos do futebol de uma maneira fina e bem feita”, analisa.

Jonas Urias também deixou uma dica para as meninas que sonham em vestir a camisa do Centro Olímpico: “Durante a peneira, participe o máximo que você puder de todos os lances de seu time. Não se esconda. Quanto mais você errar, melhor. Isso aumenta as chances de ver coisas boas, gestos bons. Não é a menina que vai fazer o gol que vai passar na peneira, mas sim a que mostrar mais repertório motor voltado para o futebol”, declara.

A dura realidade do sonho

Ao participarem das peneiras, muitas meninas apresentam também uma visão realista do mercado de futebol feminino. Marina Lima Queiroz é um desses exemplos. Ela começou a jogar futebol na rua aos nove anos. Na época, Marina brincava junto com os meninos. Tempo depois, ela participou das aulas do programa Clube Escola e descobriu que queria seguir essa carreira, apesar de saber que o caminho não é fácil: “Temos muito para melhorar. Em minha opinião, só dois clubes tem uma boa qualidade na base: o Centro Olímpico e o São José. Está na hora de investirem mais, de seguirem mais exemplos como esse (do COTP) para que surjam mais meninas para ajudar a Seleção e o desenvolvimento do esporte no país”, ressalta Marina.

Márcia Lima, mãe de Marina, tem uma visão semelhante a da filha: “ainda falta incentivo. Acho que todos os grandes clubes, além do masculino, deveriam ter o futebol feminino também”, afirma Márcia, que chegou a jogar futebol.

Karen Ellen também acredita na força do incentivo para impulsionar a modalidade. Aos 14 anos, a garota é apaixonada por futebol desde pequena: “Eles deveriam fazer mais investimentos no futebol feminino e valorizar mais a modalidade. Tem muitas meninas com talento, que sabem jogar, mas que não são valorizadas nem levadas muito a sério. Com o tempo, as meninas vão ganhando espaço”, destaca Karen.

Origem

A designação “Correndo atrás de um sonho” foi idealizada pelo próprio técnico Jonas Urias. Segundo ele, esse trocadilho retrata uma característica de todas as meninas que participam das peneiras. “Elas estão correndo atrás do sonho delas. Nós só abrimos as portas, tentamos abrir caminhos, difundimos oportunidades”, aponta.