Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência
A dupla batalha das pessoas com deficiência LGBTQIA+
No dia 17 de maio de 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o homossexualismo da lista de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Pela representativa, a data se tornou o Dia Internacional de Luta contra a LGBTfobia. A data é um marco para a comunidade LGBTQIA+ pois ela serve de conscientização, porém mesmo com tantos direitos conquistados o preconceito ainda é recorrente no mundo inteiro.
Agora, imagine ser lésbica, gay, bissexual, transexual, drag queen, intersexual, pansexual com deficiência no Brasil? O duplo desafio dessas pessoas que querem mostrar que existem e possuem escolhas como qualquer outra pessoa no mundo.
Cássia Lohanna de Paiva Silva tem 31 anos, possui nanismo e é mulher transexual. Ela conta que seu pai sempre a estimulou quando era pequena a enfrentar os desafios da sua deficiência: ‘’Meu pai nunca me deixou ‘dentro de uma caixinha’ por eu ter nanismo, e isso acontece muito hoje em dia. Quando saíamos e alguém me olhava, ele perguntava por que a pessoa estava me olhando. Naquela época eu sentia muita vergonha por ele estar fazendo isso, mas hoje não. Se ele não tivesse feito nada disso, eu não estaria encorajada para viver e seguir em frente”.
Apesar de seu pai estar ao seu lado devido a sua deficiência, Cássia explicou que em relação à sua orientação sexual ele é contra e por nove anos escondeu quem realmente era. Durante um ano ela trabalhou, juntou dinheiro e conseguiu sair da casa que morava com o pai. Foi através de uma ligação que ela assumiu para o pai a sua sexualidade. Desde esse momento eles tiveram muitas tentativas fracassadas de diálogos, porém se a Cássia tocasse no assunto se sua sexualidade, seu pai desligava o telefone.
Após sair de casa, ela começou a enfrentar a batalha do duplo preconceito: ter nanismo e ser homossexual. Mas, com aquela garra que o pai lhe passou quando era criança Cássia se jogou no mundo e descobriu uma nova pessoa que habitava dentro dela. Entre os anos de 2014 e 2015 ela assistiu diversas reportagens sobre transexualidade e a partir desse momento percebeu que ao se olhar no espelho não era aqui o que queria ver. Em 2015, Cássia começou sua transição e se sente realizada: ‘’Me sinto eu, me sinto feliz e me sinto motivada para enfrentar as barreiras".
Ivone de Oliveira, 51 anos, mais conhecida como Gata de Rodas e diretora da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, é bissexual. Aos seis meses de idade teve poliomielite. O preconceito começou na escola, continuou na adolescência e persistiu com um namorado que afirmou ter vergonha em não assumir publicamente o namoro. Ela afirma que a partir desses preconceitos, tinha dois caminhos: enfrentar tudo isso, correr atrás de seus objetivos ou desistir de si.
Em relação à família, Ivone conta que eles sempre foram super protetores e muitas coisas, como ter um relacionamento afetivo teve que ser escondido por medo da proibição de seus pais.
Foi a partir de 2007, ano em que começou na trabalhar, ter acesso à internet e assistir as reportagens sobre pessoas com deficiência, que ela descobriu que não estava sozinha no mundo com sua deficiência. Antes, ela nunca viu ou ouviu falar que existiam outras pessoas com a mesma condição.
Com necessidade de se conectar com as pessoas com deficiência, em 2012, Ivone criou o ‘’Blog da Gata de Rodas’’. Através do blog, descobriu diversas histórias parecidas com a sua. Ela usa o termo ‘’infantilização’’ para se referir à essa super proteção da família.
Pela web, ela resolveu falar também sobre a sexualidade das pessoas com deficiência, assunto pouco abordado, pois ainda muitos pensam que as pessoas com deficiência não possuem vida sexual ativa. Então, seu blog teve o que ela chama de ‘’boom’’, ou seja, foi se tornando cada vez mais conhecido.
Experiência na Parada
Ivone conta sua experiência de ir à Parada LGBT de São Paulo pela primeira vez. “Eu queria ir para me divertir, não fui pensando em nada, apenas como qualquer outra pessoa. Chegando lá fiquei chocada porque aqui eu não sou vista como qualquer outra pessoa. Não digo em relação à Parada, mas sobre o espaço público. Eu vi que não tinha muita pessoa com deficiência, eram bem poucas. É muito difícil um cadeirante estar em um evento que possui três milhões de pessoas ou mais. Você não consegue imaginar que naquele espaço possa ter um cadeirante e eu fui, porém não vi outra pessoa de cadeira de rodas ali.’’
Ela estava com muita vontade de se aproximar mais ainda de um dos cordões e as pessoas foram abrindo espaço aos poucos para ela passar. E então ali nasceu uma militante e ativista. Os membros da Parada conheceram a Ivone, que começou a frequentar a ONG e logo foi convidada para fazer parte da direção.
Cássia e Ivone são pessoas que enfrentaram muitos desafios. Elas existem e persistem. Não são invisíveis. Estão no mundo para mostrar que possuem desejos, vontades e necessidades como qualquer outra pessoa.
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