Secretaria Municipal da Saúde
Imigrante venezuelana reconstrói a vida como agente comunitária de saúde em São Paulo
No calendário, 25 de junho marca no Brasil o Dia do Imigrante. Segundo dados da Polícia Federal, cerca de 1,8 milhão de imigrantes e refugiados vivem no país. Grande parte deles vem em busca de melhores condições de vida.
Foi o caso da jornalista venezuelana Eliezka Garcia Soto, 30 anos, que chegou ao Brasil com o companheiro Oscar, 33, em setembro de 2017, em busca de evoluir econômica e socialmente.
Atualmente agente comunitária de saúde na Unidade Básica de Saúde (UBS) República, ela sente-se feliz pela vida que construiu em São Paulo. “O que construímos até agora, jamais seria possível na Venezuela que deixamos”, contou, ao lembrar das adversidades que enfrentava em seu país de origem. No entanto, até se estabilizar financeiramente na capital paulista, ela e a família passaram por dificuldades.
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A primeira cidade brasileira em que viveu com Oscar foi Boa Vista, em Roraima. Os pais da venezuelana moravam e trabalhavam lá há dois anos e ofereceram abrigo ao casal que até então não sonhava em ficar de vez em solo brasileiro. “O Brasil não era uma opção definitiva. Decidimos ir para Roraima conseguir um trabalho, poupar dinheiro e depois ver para que lugar iríamos”, explica.
A quantidade de imigrantes naquela cidade dificultou o acesso deles ao mercado de trabalho. Apenas em janeiro de 2018 eles conseguiram emprego em um restaurante. No mesmo mês Oscar foi convidado para participar de uma semana de discussões políticas e ideológicas em São Paulo e foi aí que tudo mudou.
Ele voltou para Boa Vista apaixonado e só falava sobre a metrópole. “Sabe quando você fica enamorado por uma coisa e você só fala dessa coisa? Ele ficou assim”, conta, emocionada.
Poupando quase todo o dinheiro que ganhavam juntos, trabalhando no restaurante, eles decidiram comprar uma passagem para São Paulo. Oscar mudou-se primeiro, em abril de 2018, e dentro de dez dias já estava trabalhando como cozinheiro em uma creche. Eliezka mudou-se um mês depois e, assim como seu companheiro, encantou-se pela capital paulista. A grandeza da cidade e a quantidade de oportunidades de trabalho seduziram o casal.
Na foto ao lado, Eliezka posa no dia de sua formatura em jornalismo, na Venezuela (Fotos: Arquivo Pessoal)
Oportunidade
Em julho de 2018, em uma consulta de emergência na UBS República, Eliezka se deparou com um cartaz que anunciava vagas para trabalhar como agente comunitária de saúde na unidade. Grávida, ela já tinha o hábito de frequentar o local e resolveu se candidatar.
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Após inscrição, prova escrita e entrevista com uma psicóloga, ela foi convidada para participar da última etapa, uma dinâmica.
“Eu não sei se foi o destino, mas nos dividiram em vários grupos e cada grupo tinha um caso. O caso que caiu para o meu grupo era atender uma família de imigrantes bolivianos, que falavam apenas em espanhol”, relembra. O que para muitas pessoas seria uma dificuldade, foi um ponto positivo para a refugiada que dominava o idioma e conseguiu se sair bem na dinâmica.
A aprovação foi recebida com entusiasmo por Eliezka, que não esperava conseguir um emprego tão logo, principalmente porque estava grávida de seis meses.
Pandemia e isolamento
Há três anos no cargo, ela conta que com o início da pandemia, sentiu que os munícipes passaram a precisar, ainda mais, de palavras de apoio e conforto para lidar com o isolamento social. “As pessoas estavam desesperadas, sem saber o que fazer, acumulando depressão e ansiedade, então uma palavra de alento que você dá aos pacientes, ajudando-os de alguma forma, já é muito gratificante”, diz.
Durante este período Eliezka tem feito o possível para que nenhum de seus pacientes precise sair de casa, a fim de protegê-los. “Se necessário, quando é preciso trocar uma receita, por exemplo, pegamos a receita na casa da pessoa, levamos para o médico, que toma as condutas adequadas, e devolvemos ao paciente”, conta. “Isso evita que eles se arrisquem saindo à rua para ir até o posto”, completa a profissional.
Eliezka (a segunda da esquerda para a direita) e os colegas Jair, Zelândia e Eliane a caminho de uma ação comunitária de conscientização sobre os cuidados contra a Covid-19
Ela destaca que apesar das dificuldades tem sido um momento de aprendizagem. “É uma experiência para entender, agradecer e retribuir. Às vezes o deslocamento [no caso dela] ou o não deslocamento por causa da pandemia é uma situação que não é ruim de um todo, que serve para aprender, para ajudar e para crescer como pessoa.”
Além do trabalho na área da saúde, Eliezka dá aulas de espanhol no Instituto Adus, uma Organização Não Governamental (ONG) que promove a integração de refugiados na sociedade brasileira há mais de dez anos.
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Apesar do carinho e da vontade de voltar ao seu país de origem, ela sente que não será possível e acredita que vai envelhecer aqui, com seu filho, marido, pais, irmãos e sogros. Atualmente, todos moram em São Paulo.
“Eu desejo muito que a Venezuela melhore para eu poder viver minha aposentadoria lá, mas sendo realista acredito que vai demorar e eu gosto muito de São Paulo, já me apropriei da cidade”, afirma.
Eliezka diz que ama estar ao ar livre. Nas horas de lazer, antes da pandemia, levava o filho Ilich Eloy, 2 anos, com frequência ao Parque Ibirapuera, ao Parque do Carmo e a unidades do Sesc, como 24 de Maio, Itaquera e Interlagos. Além disso, ela adora dançar e quando a pandemia acabar pretende voltar a se dedicar à atividade, que era seu hobby na Venezuela.
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