Secretaria Municipal da Saúde
Práticas integrativas auxiliam no atendimento em saúde mental
A consciência de cuidar da saúde de forma preventiva e integral vem se consolidando ao longo dos anos no Sistema Único de Saúde (SUS) do município de São Paulo. A afirmação pode ser confirmada pelo aumento da adesão às práticas integrativas e complementares (Pics) nos equipamentos da rede municipal, nos últimos anos.
Em 2023 foram registrados 740.698 procedimentos de práticas integrativas e complementares nos vários serviços. Entre as Pics mais procuradas destacam-se auriculoterapia (374.712 procedimentos), acupuntura (91.224), práticas corporais (65.931), meditação (42.095), dança circular (24.914), imposição das mãos (18.518), terapia comunitária integrativa (15.970), arteterapia (15.015), aromaterapia (15.006), massoterapia (6.345) e ioga (2.810).
O Dia Mundial da Medicina Integrativa, 23 de janeiro, reforça a importância das práticas de medicinas tradicionais nas abordagens terapêuticas, levando em conta o conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) que define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”.
A medicina integrativa é um modelo de cuidado da saúde que considera as várias dimensões (biológica, mental, social e espiritual) da pessoa para o seu adoecimento. A abordagem se baseia em uma visão ampliada de cuidado, na relação entre o paciente e os profissionais de saúde, colocando o paciente como o principal agente de sua saúde.
Ao invés de tratar especificamente a doença, a prática integrativa é focada no paciente em sua totalidade, identificando diversos fatores, entre eles fisiológicos, psicológicos, nutricionais e até sociais, que possam ser aprimorados para garantir a saúde plena, inclusive a mental.
“Dentro desse contexto, é importante ressaltar que as práticas da medicina integrativa contribuem diretamente também para a saúde mental, na medida em que esta se relaciona à forma como a pessoa reage às exigências da vida, como harmoniza seus desejos e emoções; ter saúde mental é estar bem consigo e com os outros, superando as dificuldades da vida”, afirma Adalberto Kiochi Aguemi, coordenador da Área Técnica de Saúde Integrativa, lembrando que as Pics são oferecidas por equipes multidisciplinares que, além de médicos, mobilizam profissionais como enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros.
Música como método terapêutico
Uma das novas modalidades de Pics adotadas na cidade de São Paulo é a musicoterapia, reconhecida como ciência desde 1950, oficializada recentemente no Brasil como profissão por meio da lei nº 14.842, de 2024. Na rede municipal de saúde, a musicoterapia começou a ser oferecida como forma de promover a saúde, a aprendizagem e a qualidade de vida das pessoas.
“A linguagem sonora é inerente a nós”, lembra o psicólogo e musicoterapeuta Marcel de Lima Marigo, que atua no Centro de Convivência e Cooperativa (Cecco) Trote, na zona norte da capital. “A música, pela sua própria natureza, é terapêutica, porém a musicoterapia é uma ciência com metodologia própria, incluindo o diagnóstico e técnicas específicas no tratamento da saúde; não se trata apenas de tocar a música, e sim usar a experiência musical como parte de um processo terapêutico”, diz o profissional, que possui vários relatos de experiências exitosas com pacientes com transtorno do espectro autista (TEA) e esquizofrenia, entre outros.
Segundo Marcel, a metodologia é adaptada à condição de cada pessoa. “Às vezes fazemos a recriação de músicas, às vezes criamos ritmo, melodia e a harmonia da composição do zero, e outras, ainda, utilizamos uma música conhecida”, explica. Ele acrescenta que seu trabalho no Cecco é realizado em forma de oficina e conta com apoio de outros profissionais.
No Cecco Trote, se desenrolam histórias inspiradoras de superação e vínculos afetivos. Carlos da Aruanda Garcia, 49, por exemplo, foi diagnosticado com TEA e esquizofrenia e chegou ao equipamento com um quadro depressivo e problemas de relacionamento. A irmã dele, Rosana de Carmargo Garcia, 53, conta que ao se tornar sua cuidadora começou a adoecer também. “É muito emocionante o progresso do meu irmão depois que ele começou a musicoterapia; antes ele não falava com ninguém, não frequentava nenhum lugar, mas para cá ele quer vir”, relata. Com a musicoterapia, Carlos passou de um quadro de depressão profunda, no qual sequer falava, para a atual condição, de se apresentar em público, cantando e tocando instrumentos, atingindo um outro patamar de bem-estar - que também trouxe alento à sua irmã e cuidadora.
Os usuários dos Ceccos podem tanto ser encaminhados por outros equipamentos quanto buscar o serviço, que é de “porta aberta”, ou seja, não necessita de encaminhamento ou agendamento. “Importante buscar a convivência para evitar o sofrimento psíquico”, afirma Ione Célia de Carvalho Gama, gestora do Cecco Trote. Segundo ela, o equipamento realiza em média 1.100 atendimentos por mês, sendo que, majoritariamente seu público (60%) é a população idosa.
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Terapia promove rodas de conversa
Considerada uma Pics 100% brasileira, a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) também foi disponibilizada recentemente na rede municipal de saúde (as primeiras formações para profissionais aconteceram em 2022), e é uma das que mais tem gerado interesse em pessoas em situação de sofrimento psíquico. Afinal a TCI é estruturada por meio de grupos abertos que se reúnem semanalmente, em rodas de conversa nas quais todos – pacientes da unidade, pessoas da comunidade, têm voz e podem compartilhar questões, problemas, desassossegos e dores da alma.
Cabe ao mediador da TCI, que pode ser qualquer profissional da unidade, atuar como um facilitador deste processo. O ponto fundamental da Terapia Comunitária Integrativa, no entanto, está na horizontalidade, sem relação de poder entre os atores, com o objetivo de criar e fortalecer os laços sociais, em uma dinâmica na qual cada participante é corresponsável pelo processo terapêutico individual e coletivo, ao partilhar suas experiências e vivências com todos na roda. Neste processo, pode ocorrer identificação, insights para o encaminhamento de questões e até mesmo um resgate da identidade e da autoestima.
Pioneirismo
A cidade de São Paulo é pioneira na implantação das Pics na saúde pública desde 2001. Atualmente, praticamente todas as 479 UBSs da cidade oferecem as práticas, juntamente com os seis Centros de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (CRPICS) os 23 Centros de Convivência e Cooperativa (Ceccos), sete Unidades de Referência à Saúde do Idoso (Ursis), 50 Centros de Atenção Psicossocial (Caps), três hospitais municipais e também os Centros Especializados em Reabilitação (CERs).
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