Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social

Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 | Horário: 16:24
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Dia dos Povos Indígenas: uma data de reconhecimento e luta

No extremo sul, aldeias mantêm vivas suas culturas, em meio a rotina da cidade grande

Texto e fotos: Victor Benevides

Moradores da tribo Tapé Mirim posam para foto

Há quase 70 quilômetros do centro da capital, mais precisamente em Parelheiros,no extremo sul, vivem cerca de 880 pessoas, divididas em 16 aldeias indígenas, destas, duas são consideradas “matrizes”, as aldeias Tenondé Porã e Krukutu. Afastados da intensa movimentação que há na parte mais central de uma metrópole como São Paulo, os indígenas da aldeia Tapé Mirim, uma das que estão ali, se esforçam para manter vivas as suas raízes e propagar seus costumes, sem se desconectarem da cidade.

Quem vai à Aldeia Tapé Mirim, formada por cerca de 50 pessoas, incluindo crianças e adultos, imediatamente observará a cozinha comunitária do local, que fica logo na entrada, além de um pequeno açude com peixes e uma variedade de animais que correm livremente pela mata. Salvo algumas características específicas, este cenário é comum a todas as aldeias dessa região.

Dieguito, 23, não esconde a felicidade ao falar sobre sua terra e conta com alegria sobre as atividades esportivas que acontecem nas aldeias. “Tem uma copa de futebol acontecendo entre as aldeias da cidade, aqui nós jogamos muito futebol”, disse o indígena que, aliás, é tricampeão em outra modalidade, o arco e flecha.

Dieguito e sua mãe, Cacique Laura.

Sobre a rotina de quem vive nas aldeias, a Cacique dos Tapé Mirim, Laura Guarany, 54, conta que não há muita diferença com relação aos centros urbanos. “Nos dias úteis, todos trabalham, mas quando chega o fim de semana é difícil encontrar alguém aqui. Vão todos jogar bola”, disse a liderança, se referindo às atividades que acontecem entre as aldeias. Ela também revelou que o intercâmbio entre as aldeias da cidade e até do país, é bem forte. “Esse feijão aqui, eu trouxe dos Nambikwara, do Mato Grosso”, completou apontando para uma plantação.

No dia a dia entre os indígenas das aldeias, há uma série de procedimentos que são aplicados e a cacique cita a importância de uma rede de apoio entre todos os povos. “Se algum problema de convivência acontece entre um morador de alguma aldeia, nós podemos receber essa pessoa e resolver este problema”, disse. Além disso, na Casa de Reza, os moradores da aldeia contam suas histórias, resolvem suas desavenças e também fazem jus ao nome do local, tocando instrumentos sagrados, por exemplo.

Entretanto, o Dia dos Povos Indígenas, comemorado neste dia 19 de abril desde 1943, não é exatamente uma data com boas lembranças. “É um dia de luto. Nosso sangue foi muito derramado”, contou a cacique. “Nós levamos muito a sério esse dia. É uma data que muitos conhecem, mas, infelizmente, não é feriado. Todo dia é dia dos povos indígenas”, complementou Dieguito, que fez questão de reivindicar que a data seja considerada feriado nacional.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) segue uma rotina de trabalho contínuo junto ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de Parelheiros, em conjunto com lideranças indígenas, para garantir o acesso aos serviços de assistência social e promover a valorização da cultura das aldeias.


Dieguito está na sala de aula da aldeia.

Rede Socioassistencial

Segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há cerca de 3 mil indígenas vivendo em aldeias nas regiões de Parelheiros, zona sul, e no Jaraguá, zona norte.

De janeiro do ano passado a março deste ano, 186 indígenas foram atendidos em equipamentos de acolhimento. O bairro da Mooca, zona leste, registrou o maior número de acolhimentos, 77, seguido da Sé, com 73, e de Santana e Tucuruvi, com 12.

A rede socioassistencial é uma importante ferramenta para a promoção da inclusão social e valorização da cultura indígena, atendendo cerca de 21 aldeias, prestando serviços, tais como, atualizações de CadÚnico, Benefício Alimentação, ítens de primeira necessidade, quando houver demanda e também através de parcerias com outros órgãos públicos, como a Fundação Nacional do Povos Indígenas (FUNAI), que oferece o documento dos Jurua-kuery ? Trata-se do registro geral Civil (RG) e Jurua-kuery significa “não indígenas”.
 

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