Secretaria Municipal de Cultura
Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo
Um grupo escultórico em argamassa armada, retratando uma jovem seminua ao lado de uma cabra, foi comprado pela Prefeitura na gestão de Raymundo Duprat (1911 – 1914) e implantado junto a um espelho d’água no antigo largo do Paraíso, hoje praça Osvaldo Cruz, no começo da avenida Paulista. Acreditamos que a obra tenha sido importada da França, a exemplo de outras compradas no mesmo período. Em meados dos anos 1920, a Prefeitura adquiriu obras de Francisco Leopoldo e Silva, entre elas “Índio Pescador”, e resolveu implantá-la no largo do Paraíso. Para tanto, a jovem e a cabra foram deslocadas para o Jardim da Luz.
Durante muitos anos, o grupo escultórico foi designado como a estátua de “Diana”, conforme a inscrição numa placa de bronze, providenciada provavelmente pelo Departamento de Parques e Jardins nos anos 1950. O recanto do parque onde foi implantada ficou conhecido, por extensão, como “lago da Diana”. Desconhecia-se, no entanto, sua origem, nome e autoria. Também causava estranheza o fato da jovem não exibir os elementos que costumam caracterizar as representações de Diana, deusa da lua e da caça, como um diadema com uma meia-lua na cabeça, o porte de arco e flecha, e a companhia de um cervo, numa referência ao episódio em que transformou o caçador Acteão num animal, depois de tê-la visto nua quando se banhava. Mas pesquisas realizadas pela Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa do DPH revelaram sua identidade em 2006.
Trata-se de reprodução da obra em mármore de Pierre Julien (Saint Paulien, França, 1731 – Paris, 1804), “Amaltéia e a Cabra de Júpiter” (Amalthée et la chèvre de Jupiter), concebida originalmente para a leiteria da rainha Maria Antonieta no Castelo de Rambouillet. O grupo escultórico foi encomendado em 1785. Dois anos depois, estava pronto e instalado no interior de uma gruta, construída num pavilhão decorado com baixos-relevos, também concebidos por Julien. Amaltéia e a Cabra de Júpiter (altura = 1,73m; largura =1,05m; profundidade = 0,80m) integra, hoje, o acervo do Museu do Louvre, em Paris.
Segundo a mitologia greco-romana, Cronos (Saturno para os romanos) devorou dois filhos que teve com Réia (Cibele), assim que nasceram. Para evitar que o mesmo acontecesse ao recém-nascido Zeus (Júpiter), Réia o confiou aos cuidados da ninfa Melissa e da cabra Amaltéia, que viviam numa gruta na Ilha de Creta. Além do filho Pan (Fauno), Amaltéia passou a amamentar Zeus. Como dividiam o leite de Amaltéia, Pan e Zeus são considerados irmãos de leite. Outra versão da lenda conta que Amaltéia seria uma ninfa, filha de Melisso de Creta, que teria acolhido Zeus e o alimentado com leite de cabra. Foi nesta última versão que Julien se baseou para criar sua obra.
Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH