Secretaria Municipal de Cultura

Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo

Monumento à Independência

Para celebrar o Centenário da Independência do Brasil, previu-se a construção de um monumento às margens do riacho Ipiranga, local onde Dom Pedro I teria proclamado a Independência em 1822. A Prefeitura de São Paulo cedeu o terreno, enquanto o governo do Estado se responsabilizou pela construção, para a qual contribuíram os governos dos demais estados brasileiros.

Um concurso internacional de maquetes foi aberto em 1918. Vinte e dois projetos foram inscritos. A comissão julgadora, nomeada pelo Presidente do Estado de São Paulo, Altino Arantes (1916 – 1920), era composta por Affonso d’Escragnolle Taunay, Adolfo Augusto Pinto, Francisco de Paula Ramos de Azevedo e Victor Freire. A comissão se reuniu em 1920 e as maquetes concorrentes foram expostas ao público no Palácio das Indústrias, logo despertando criticas e debates. Os projetos não diferiam muito entre si, fato observado pelo historiador Affonso Taunay: “...cabe-me a impressão de que estes autores têm aqueles projetos em reserva para, mudando-lhes o rótulo, e os nomes dos personagens, aproveitá-los aqui e acolá...” O projeto de Nicolla Rollo tinha a simpatia da população. As discussões se acirraram quando se anunciou o vencedor: o italiano Ettore Ximenes (1855, Palermo – 1926, Roma). Monteiro Lobato comentou: “Rollo teve a votação unânime da cidade de São Paulo com exceção apenas de quatro pessoas que, por coincidência, formavam a Comissão Julgadora”. Mário de Andrade criticou duramente o projeto escolhido: "O ilustre Sr. Ximenes, que de longe veio, infelicitará a colina do Ipiranga com o seu colossal centro-de-mesa de porcelana de Sévres". As críticas giravam em torno da ausência de fatos e nomes relacionados com a Independência do Brasil. A solução encontrada para minimizar o problema foi introduzir alterações no projeto de Ximenes, que concordou com algumas delas. José Wasth Rodrigues foi o responsável pela concepção de quadros em relevo, grupos escultóricos e estátuas.

Ainda inacabado (seria concluído quatro anos depois), o monumento foi o centro das comemorações pelo Centenário da Independência em São Paulo, inaugurado com grande pompa no dia 7 de setembro de 1922.

A construção monumental em granito e bronze se apresenta disposta em estágios alternados, ligados por degraus que a circundam desde a base. Na face frontal do monumento, encontram-se estátuas sedestres do Padre Diogo Antonio Feijó, “prócer da Independência e deputado às cortes de Lisboa” e de José Bonifácio de Andrada e Silva, “o patriarca da Independência”; na face posterior, estão as estátuas de Hipólito José da Costa, “o jornalista da Independência - fundou e redigiu o ‘Correio Brasiliense’ em Londres” e Joaquim Gonçalves Ledo, “chefe do movimento da Independência no Rio de Janeiro”.

Na face frontal do monumento, um grande baixo relevo em bronze reproduz o quadro “Independência do Brasil”, de Pedro Américo. No topo, está um grupo triunfal formado por 20 figuras em bronze e cerca de 6 metros de altura. Uma mulher aparece em primeiro plano, com um estandarte e uma lança nas mãos, sobre uma biga puxada por dois cavalos e seguida pelo povo – uma alegoria à Liberdade, muito comum à época. Relevos esculpidos no granito representam embarcações do tipo viking, figuras greco-romanas, armaduras, flâmulas, lanças e águias, locomotivas, engrenagens e trilhos.

Na lateral esquerda do monumento, um grupo escultórico em bronze representa “Os Inconfidentes Mineiros de 1789”, tendo logo abaixo um quadro em bronze ilustrando a “entrada de Dom Pedro na rua do Carmo em São Paulo na tarde de 7 de setembro de 1822”. Na lateral direita, outro grupo escultórico em bronze representa “Os Revolucionários Pernambucanos de 1817”. Abaixo, um quadro em bronze ilustra o “Combate de Pirajá - campanha da Independência para a libertação da Bahia - episódio do Corneta Luís Lopes”. Enquanto os grupos escultóricos abordam as tentativas de independência, os relevos tratam de sua consolidação. 

Para reforçar ainda mais o significado daquele local como o do nascimento da nação brasileira, projetou-se a construção de uma cripta no interior do monumento, que funcionaria como Capela Imperial. Nela repousariam, definitivamente, os despojos do primeiro Imperador e de Dona Leopoldina, Imperatriz do Brasil. A cripta foi inaugurada em 1952, considerada, ainda, um cenotáfio – um túmulo vazio –, uma vez que os despojos do Imperador e de sua esposa não se encontravam ali. Posicionada na parte frontal do Monumento à Independência, voltada para o riacho Ipiranga, a pira do chamado "Altar da Pátria" foi acesa, simbolizando o amor incondicional à Pátria.

Somente dois anos depois, os despojos da Imperatriz Leopoldina foram transladados do Convento de Santo Antonio, no Rio de Janeiro, sob os cuidados do Instituto Histórico e Geográfico. A cerimônia integrou as comemorações do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. Da Catedral da Sé, o ataúde foi levado ao Ipiranga seguido por grande cortejo. Houve quem argumentasse que não era necessário perturbar o repouso eterno da Família Real, mas prevaleceu a idéia de reafirmar a sacralização do Altar da Pátria.

Os despojos de Dom Pedro I, por sua vez, foram transladados do Convento de São Vicente de Fora, na cidade do Porto, Portugal, em 1972, como parte das comemorações do Sesquicentenário da Independência, em solenidade transmitida para todo o país via satélite. Em 1982, também os restos mortais de Dona Amélia de Beauharnais, esposa de Dom Pedro I em segundas núpcias e Imperatriz do Brasil, foram transladados de Lisboa para a Capela. 

O Monumento à Independência também abriga em seu interior, desde 2001, um espaço de exposições administrado pela Divisão de Iconografia e Museus do Departamento do Patrimônio Histórico.


Seção Técnica de Levantamentos e Pesquisa
Divisão de Preservação - DPH