Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento
Semana da Consciência Negra: como pardos e pretos influenciaram o desenvolvimento urbano de São Paulo
Nesta semana em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) da Prefeitura de São Paulo destaca a história e a influência do povo negro para o desenvolvimento da cidade.
O número de pessoas negras sempre foi significativo na cidade de São Paulo, conforme registros históricos. Hoje a população que se reconhece como parda e preta soma mais de 5 milhões, de acordo com o recente estudo publicado no Informe Urbano da SMUL, elaborado a partir do cruzamento dos dados do Censo Demográfico de 2022 do IBGE com recenseamentos anteriores (2000 e 2010).
Saiba um pouco mais sobre a história da população negra na cidade:
Os reflexos da escravidão
O aumento de pessoas escravizadas na então província de São Paulo se deu com a expansão da cultura de café e cana de açúcar. Com o fim do tráfico humano, em 1830, parcela da população preta vinda de países africanos começou a cair. A partir de 1870, iniciou o movimento de imigração, pincipalmente de europeus, para o Brasil.
Durante mais de uma década, pessoas escravizadas conviveram com trabalhadores livres e assalariados. A partir da abolição da escravatura no final do século 19, a economia agrícola ganhou força sem que houvesse a transição do trabalho escravo para o trabalho livre e remunerado. Sem inclusão no mercado de trabalho, automaticamente a população negra e de afro-brasileiros não foi integrada socialmente.
Sem reparação financeira para iniciar uma nova jornada de vida, discriminados pela cor da pele, analfabetos, sem ocupação, lugar para morar e condições mínimas de subsistência digna, a população negra deixou a região central de São Paulo para ocupar as áreas mais afastadas da cidade.
Conheça os bairros e regiões marcados pela influência da população negra
Região central
A religiosidade de mulheres e homens pretos era vivenciada em grupos. Durante o século 19, surgiu na região central de São Paulo a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos. Suas sedes eram nas igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (Largo do Paissandu), de Santa Efigênia e de São Benedito, ambos santos negros. No interior e no entorno desses templos a população negra se reunia, cantava e dançava, contagiando os espaços públicos. Pontes sobre os rios Anhangabaú e Tamanduateí também eram pontos de encontro da população negra.
Liberdade
Antes Distrito da Glória, o bairro da Liberdade carrega uma história de dor, fé e ancestralidade. No século 18 havia um pelourinho na rua São Paulo - antes Rua dos Ingleses - onde escravos eram açoitados e enforcados publicamente. Lá foi instalado o primeiro cemitério público da cidade de São Paulo, o Cemitério dos Aflitos, com uma capela de mesmo nome ao lado. A forca deu lugar a um chafariz e o nome do local passou a ser Praça da Liberdade.
Bixiga
A população negra do bairro do Bixiga ainda é predominante e se estabeleceu bem antes dos imigrantes italianos. Homens e mulheres pretos libertos construíram moradias e ocuparam toda a região. O tradicional bairro do centro de São Paulo foi, durante muitos anos, o Quilombo Saracura.
Glicério e Cambuci
Muitas famílias negras, após a abolição da escravatura, foram morar e trabalhar em fábricas nesses bairros. Os afro-brasileiros mantiveram vivas as tradições culturais, como as rodas de capoeira.
Barra Funda
Conhecido como um dos primeiros redutos negros da cidade de São Paulo, a Barra Funda abrigou muitos afro-brasileiros atraídos pelas oportunidades de trabalho nas ferrovias e no comércio. A população negra liberta se concentrava no Largo da Banana, mercado de venda de frutas.
Capão Redondo
Capão Redondo, na zona sul, está presente na cena cultural do hip-hop da cidade. Esse movimento negro contemporâneo nasceu da resistência do povo negro e como forma de manter viva as raízes afro. Com músicas e letras fortes, dança e grafite, o hip hop é importante exemplo da cultura de rua de mulheres e homens pretos.