Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
Após cuidados da prefeitura de São Paulo, bugios-ruivos são devolvidos à natureza
Plano de reintrodução busca preservar essa espécie em extinção e restaurar o equilíbrio ecológico
Fotografia por Daniel Reis / SVMA
Cinco indivíduos da espécie Alouatta guariba clamitans, conhecidos como bugios-ruivos, retornaram à vida livre após o acompanhamento e cuidados da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), por meio da Divisão da Fauna Silvestre (DFS). A soltura aconteceu no início do mês de novembro.
O objetivo principal é auxiliar a conservação de uma das espécies de primatas mais ameaçadas do mundo. Além disso, o retorno desses animais ao ambiente natural promove a restauração das interações ecológicas e os serviços ambientais prestados por eles. O projeto tem parceria com a Fundação Florestal e com o Instituto de Pesquisas Ambientais da Semil, Rotary Club Tremembé, Instituto Ampara Animal, Instituto Pasteur de SP e Instituto de Medicina Tropical da USP.
Como está sendo o tratamento desses primatas?
Os bugios estão sob cuidados supervisão no Centro de Manejo e Conservação de Animais (CeMaCAS), um local de referência na América Latina, onde receberam vacinação contra a febre amarela.
Inicialmente, os primatas passaram por cuidados médicos veterinários, além de terem feito uma bateria de exames clínicos de sangue e de imagem. Depois, foram avaliados em relação à viabilidade de seu retorno à natureza.
O processo de reabilitação também incluiu a adaptação da dieta, constituída basicamente por folhas e frutos de árvores nativas, o fornecimento de água em ocos de árvores e bromélias, a avaliação do comportamento frente à presença humana e sua capacidade de deslocamento nos galhos da copa das árvores. Aqueles que responderam adequadamente a esses critérios foram selecionados para a soltura.
Os outros integrantes do grupo da soltura são os filhotes de um casal nascidos na DFS, cuidados pelos pais e irmãos, sem interferência humana.
Antes da liberação dos indivíduos na mata, os bugios são mantidos em um recinto de aclimatação por um período de aproximadamente 15 dias. A soltura realizada é a denominada “soltura branda”, por meio da qual, o recinto se mantém aberto, com fornecimento de alimentação, para que possam retornar em caso de necessidade.
Devido a ameaça de extinção da espécie, a reintrodução somente foi autorizada após um rigoroso protocolo aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICmBio), e por um comitê formado por pesquisadores e especialistas de diversos órgãos e áreas.
Compromisso da SVMA na manutenção da espécie
As ações de reintrodução dos bugios-ruivos ao seu habitat natural tiveram início em 1996, devolvendo indivíduos saudáveis e aptos, a fim de garantir a manutenção e a proteção das populações da espécie no município.
Com objetivo de estudar os padrões de vida, como comportamentos referentes à interação com o ambiente e convívio em grupo, estado de saúde, rotas de deslocamento, tipos de alimentação e padrões de reprodução – especialistas acompanharão o grupo inicialmente durante 30 dias consecutivos, com o auxílio de coleiras com emissão de sinal VHF, adquiridos com apoio do Rotary Club de Tremembé, Rotary Foundation e Rotary Club de Saronno na Itália, assim como os recintos de aclimatação e outros insumos.
O monitoramento desses animais é feito pelos técnicos da SVMA e pela equipe do Instituto Ampara Animal e continuará a ser realizado após os 30 dias de rastreamento.
Importância do trabalho da Divisão da Fauna Silvestre
Fotografia por Daniel Reis / SVMA
A DFS conta com profissionais qualificados, responsáveis pela fauna silvestre, a partir das solicitações de resgate, identificação das espécies e atendimentos dos animais feridos ou em situação de risco. Atualmente, destaca-se pelo atendimento veterinário com suporte laboratorial, que visa não apenas a recuperação, mas a reabilitação, triagem e destinação de animais silvestres, devolvendo-os à natureza ou repatriando-os.
Em 2022, a Divisão realizou a imunização de 38 animais contra o vírus da febre amarela após um surto nos anos de 2017 e 2018. A vacinação contra a febre amarela teve um resultado satisfatório e foi realizada em parceria com o Instituto de Medicina Tropical da USP e do Instituto Pasteur de São Paulo.
Parque Estadual da Cantareira
O Parque Estadual da Cantareira, local de soltura, é uma das mais importantes Unidades de Conservação do estado. O parque também é considerado um dos maiores parques urbanos do mundo e, durante muito tempo, teve as maiores populações de bugios-ruivos existentes no bioma Mata Atlântica.
Segundo Edson Montilha, biólogo e especialista em primatas da Fundação Florestal, “após os eventos da Febre Amarela, boa parte dessa população foi dizimada, existindo hoje apenas alguns grupos isolados que estão sendo acompanhados pelo Programa de Monitoramento de Biodiversidade MonitoraBioSP”.
O reforço populacional da espécie para recompor a população original e para que sejam mantidos os serviços ecossistêmicos que esses animais prestam, especialmente como dispersores de sementes, fazem parte das metas da Fundação Florestal.
O bugio-ruivo, também conhecido como “barbado” é um primata de grande porte, coloração bem avermelhada e habita na Mata Atlântica. Vivem em grupos de três a 10 indivíduos, sendo um macho dominante, algumas fêmeas, indivíduos jovens e filhotes. Estes animais realizam um papel ecológico muito importante na dispersão de sementes e na associação com outras espécies da fauna, como certas espécies de besouros. A principal característica dos bugios é a sua vocalização, sendo possível ouvi-los a quilômetros de distância.
Eles também contribuem para a manutenção das florestas e redução de impactos ecológicos – como o controle de alterações climáticas e equilíbrio da biodiversidade.
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